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terça-feira, 13 de novembro de 2018

80% dos bandidos mais perigosos da Bahia atuam no interior



Oito em cada dez bandidos listados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) como os mais perigosos da Bahia atuam no interior. O levantamento foi realizado com base no Baralho do Crime, ferramenta do governo que reúne os 52 homens e mulheres mais violentos do estado. A maioria é procurada por envolvimento em homicídios e com o tráfico de drogas.
Na semana passada, a SSP-BA anunciou a atualização de 11 das 52 cartas. Feira de Santana lidera a lista dos municípios interioranos com o maior número de bandidos de alta periculosidade. São cinco procurados. A cidade fica atrás apenas de Salvador, com 10. Feira é seguida por Candeias (4), Jequié (4), Teixeira de Freitas (3) e Vitória da Conquista (3).
O Baralho do Crime foi criado para estimular a população a ajudar a polícia na busca dos criminosos mais procurados pela polícia. Ele é atualizado conforme as prisões e mortes dos integrantes da lista. 
William Santos Santana, o Choquito, por exemplo, foi preso no final do mês passado em Eunápolis, no Sul do estado. Ele era o Rei de Espadas do baralho e foi substituído por Edson Valdir Souza Silva, suspeito de ter matado cinco pessoas em Maiquinique, no Sudoeste, por disputas pelo tráfico de drogas na região. 
Apesar de uma operação especial organizada por policiais da 21ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Itapetinga) para prendê-lo, ele fugiu e entrou para o baralho na semana passada.
Interiorização
O advogado criminalista, policial da reserva e integrante da Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares (Aspra), Dinoermeson Tiago, destacou que existem cidades em que apenas dois homens realizam o policiamento ostensivo e que essa falta de estrutura das polícias nos municípios serve de incentivo para a bandidagem.
“Um dos fatores que contribuiu para que esses criminosos migrassem para o interior é a ausência de policial em algumas cidades”, destacou.
Dinoermerson ainda acredita que a valorização do policial, a compra de material bélico e a realização de concursos para policiais atuarem no interior é essencial para o combate ao tráfico de drogas e homicídios.
Em agosto do ano passado, a facção Bonde do Maluco surgiu de dentro do Pavilhão V do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador. Sob o comando de José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, o grupo se ramificou por diversos bairros da capital e municípios da Região Metropolitana.
Zé de Lessa é o Ás de Ouro e atua em tantas regiões que não existe um município específico para ele no Baralho do Crime. Ele e Antônio Moreira de Costa Júnior, o Tentem ou Junior do Gás, são os únicos nessa situação. Esse último age, principalmente, em municípios do Recôncavo e cidades como Sapeaçú, Castro Alves, Conceição do Almeida e Feira de Santana.
Autonomia
Para o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindipoc), Marcos Maurício, essa foi uma situação particular. Ao contrário da Aspra e do professor especialista, ele acredita que, na maioria dos casos, as facções que atuam no interior surgem nos próprios municípios e têm uma autonomia das organizações da capital.
Maurício defende que são necessários mais investimentos em segurança e em outras áreas, como educação e desenvolvimento humano, para conseguir reverter o quadro.
O presidente do Sindpoc defende que haja mais capacitação de pessoal e sugere que a polícia reveja os métodos de investigação. “É preciso potencializar a investigação e trabalhar a prevenção, e para fazer isso, educação, saúde e desenvolvimento humano são indispensáveis”, afirmou.
Para Marcos Melo, professor de Direito e presidente da Comissão Especial de Sistema Prisional e Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA), não é possível especificar com precisão se as facções criminosas surgem no interior ou se são extensões da capital, e frisou que os problemas envolvem questões sociais.
O professor enfatizou a necessidade de políticas públicas para evitar que os jovens sejam cooptados pela criminalidade e disse que a desigualdade social, a apologia à violência e a deficiência na educação corroboram para a proliferação das facções. “A questão é muito mais complexa do que se imagina”, destacou.
Outro lado
Em nota, a SSP-BA ressaltou que o baralho foi criado em 2011 para expor, de uma forma diferente, os criminosos mais procurados. “Nestes sete anos, 108 criminosos foram capturados e 42 terminaram morrendo em confronto”, diz a nota.
A pasta também afirmou que muitos dos integrantes do baralho acabam buscando esconderijos em áreas rurais do interior ou em outros estados, tentando escapar da polícia. “A SSP destaca ainda que a média de elucidação da Polícia Civil da Bahia está acima da nacional e que o trabalho, em alguns casos envolvendo alvos do Baralho, é realizado em conjunto com outras forças”, conclui a nota.
Mulheres
As mulheres ainda não minoria entre os bandidos mais perigosos, mas três estão na mira dos policiais. Na semana passada, Cláudia de Jesus Santos, a Gagai, entrou para a lista dos mais procurados. Segundo a SSP-BA, ela é uma das principais traficantes de drogas de Feira de Santana e, por isso, ocupa a posição de 2 de Paus no Baralho do Crime. 
Em janeiro do ano passado foi a vez de Jasiane Silva Teixeira, 29, a Dona Maria, integrar a mesma lista. Segundo a polícia, é ela quem comanda a facção Bonde do Neguinho (BDN), em Vitória da Conquista, no Sudoeste.
Dona Maria é procurada por tráfico de drogas e homicídio. Entre os processos, está a morte de um agente penitenciário, em Jequié. Segundo os investigadores, ela assumiu o comando o tráfico de drogas depois que o companheiro dela, Bruno de Jesus Camilo, o Pezão, fundador do Bonde do Pezão, morreu em confronto com a polícia, em 2014.
Depois da morte de Pezão, houve um racha entre vários grupos que eram ligados a ele e isso desencadeou uma disputa acirrada, com muitas mortes, em Conquista. Dona Maria assumiu a liderança de uma das organizações, articulou alianças e ampliou a atuação para Jequié, quando a facção passou a se chamar Bonde do Neguinho (BDN).
Já o 10 de Copas é ocupado por Marisangela Soares de Sousa, a Mari ou Coroa. Segundo a polícia, ela é um dos 10 criminosos de alta periculosidade que atuam em Salvador, liderando o tráfico de drogas na região da Cidade Nova. Mari foi companheira do também traficante Eberson Souza Santos, Piti, morto em 2007, e foi incluída no Baralho do Crime em setembro de 2017.
Mortes
O coordenador regional de Polícia Civil de Feira de Santana, delegado Roberto da Silva Leal, ressaltou que a grande maioria dos homicídios da cidade – que aparece em segundo lugar em número de criminosos procurados no Baralho – é relacionada ao tráfico de drogas. “A motivação que a gente mais vê é o tráfico de drogas. Principalmente porque os traficantes disputam áreas na cidade e isso se agrava”, disse.
A ligação para ele é tão visível que em outubro houve uma redução brusca de homicídios. De acordo com Leal, a diminuição foi resultado das apreensões de drogas expressivas dos meses anteriores.
Luiz Henrique, 37, que mora em Feira de Santana há uma década, acredita que a localização estratégica da cidade no estado influencia na criminalidade. “Aqui é mais fácil cometer um crime e fugir para outros locais. Em alguns bairros é inseguro transitar por conta do tráfico”, disse, ressaltando que deveria haver mais investimento em segurança pública.
Segundo o Atlas da Violência de 2018, divulgado em junho deste ano, o número de homicídios na Bahia dobrou nos últimos dez anos. O levantamento foi feito entre 2006 e 2016 e aponta que há 12 anos o número de assassinatos era de 23,7 para cada 100 mil habitantes. Agora, saltou para 46,9 para a mesma quantidade de baianos. A variação é de 97,8%.
O estudo indica que nesses dez anos, o Brasil sofreu aumento de 23,3% no número de assassinatos de jovens (pessoas com idades entre 15 e 29 anos). A taxa de 218,4/100 mil baianos mortos é maior que o índice nacional de 122,6/100 mil. Além disso, cinco das dez cidades mais violentas do Brasil estão na Bahia.
A SSP-BA contestou os números do levantamento na época e disse, em nota, que a metodologia desfavorece os estados nordestinos ao não levar em consideração que eles contam as ocorrências usando uma metodologia diferente.
No que diz respeito à morte de jovens, a secretaria pediu uma maior participação dos municípios para propor ações sociais que ofereçam novas perspectivas, como mais oportunidades de emprego, para evitar que os adolescentes se envolvam com o tráfico de drogas.
Quem tiver qualquer informação sobre algum dos procurados pode entrar em contato com o Disque Denúncia nos telefones (71) 3235-0000 ou 181. O sigilo é garantido.


*Correio

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